domingo, 11 de novembro de 2012

O "CAOS" ECONÓMICO ACTUAL (PARTE II)

Os países que conseguem, por um lado, combinar alta tecnologia com mão-de-obra barata adquirem uma vantagem absoluta sobre os outros países. Temos como exemplo, o que está a acontecer na China e na Índia, que começam a ter vantagem absoluta em muitos produtos, relativamente à Europa. Isto acontece tanto em produtos de alta tecnologia de investimento direto estrangeiro, como em produtos manufaturados. Em ambos os tipos de produtos, estes países têm mão-de-obra adequada e a muito mais baixos níveis salariais que os países ocidentais. Este fenómeno global de investimentos diretos estrangeiros entre os diferentes países, é uma realidade inegável. O mundo comporta-se como um só mercado interno como se de um único país apenas se tratasse. As multinacionais estão em todo o lado, e estas têm investimentos em outras empresas, ou simplesmente fundiram-se, ou ainda realizaram operações de aquisição. A velocidade da informação está à distância de um ‘click’, e as reações a estas são instantâneas, emocionais, pouco racionais, demasiado rápidas, provocando oscilações nos mercados, nervosismos, aproveitamentos, especulações derivadas de informação e contrainformação. É uma era de volatilidade dos mercados e de incerteza.

A mais pequena movimentação em algum lugar do globo provoca uma reação do outro lado. Ora esta situação encaixa naquilo que se veio a denominar de teoria do caos. Estamos perante um sistema cuja complexidade parece corresponder a desordem, incerteza, instabilidade e aleatoriedade.

Ao modelar matematicamente um fenómeno extremamente complexo, Edward Lorenz descobriu que pequenas perturbações nas condições iniciais impediam qualquer previsibilidade, pois levavam a efeitos não só quantitativamente distintos, mas também qualitativamente diferentes. Surgiu assim, conforme afirma Bauer, “uma "terceira via" entre o determinismo dos sistemas lineares (…) e o indeterminismo do puro acaso: o chamado caos.” Neste contexto de grande incerteza, e que estamos a viver, o planeamento realizado pelas empresas, a longo prazo, não parece revelar-se eficaz. Será que o constante esforço de inovação, da proliferação da “destruição Criativa” de Schumpeter é suficiente para obter um aumento dos resultados? Será que é sustentável um mundo em constante mudança na criação de necessidades, com mudanças sistemáticas de estratégia e a velocidades cada vez maiores? Esta parece ser uma defesa, uma adaptação ao paradigma económico atual. Mas…até quando?

Será que a globalização foi longe demais, ou pior, estamos a falar já de globalismo? De uma ditadura do mercado? Acredito que sim. Penso que é necessário um novo paradigma de modelo global de comércio menos assente na vantagem comparativa e mais baseada na vantagem mútua. Deverão envolver-se todos os países no processo, mesmo sendo de pequena dimensão. Parece utópico, mas já estivemos mais longe. Não nos esqueçamos da borboleta e do bater das suas asas! A Grécia é um país de relativa pequena dimensão e no entanto…

Como deverá ser então encetado o Desenvolvimento Mundial baseado na vantagem mútua? Que regulações estarão acopladas a este conceito?  O mercado livre e desregulado próprio do neoliberalismo parece ter dado e continua a dar as suas lições negativas. Que exigências então? Que normas? E a carta dos Direitos do homem? Não deverão os países serem cumpridores dos direitos humanos para poder aceder ao comércio livre?  

Precisamos de uma ética global nos negócios. Não será demais afirmar que, a crise que atravessamos, e que teve origem no sub-prime, em muito se deve à falta desta ética nos negócios, e até na avaliação individual e tentativas de superação dos objectivos individuais na senda dos prémios de excelência e que sobrevalorizaram os "cabazes" de créditos transformados em apelativos credit default swaps.

Se procuramos o wellfare, não podemos viver num elevado grau de incerteza, no constante risco (ou pelo menos desmesurado). Penso que devemos dar um fim ao neoliberalismo económico, que evidenciou o falhanço da autorregulação dos mercados e a sua falta de ética. Não podemos continuar com uma concorrência desigual. Devido à mobilidade do capital, ao efeito de substituição das exportações, e à vantagem absoluta, países com mão-de-obra barata e investimento estrangeiro em cada vez mais produtos, contribuem para o seu desenvolvimento, mas em sentido contrário contribuem para custos económicos e sociais elevados nos outros países. É como uma corrida. Os pontos de partida devem ser iguais, ou melhor, o cumprimento de normas éticas universalmente aceites, devem funcionar como premissa fundamental para que esses países possam funcionar como “players no comércio internacional. Como exemplos dou: o cumprimento dos direitos consignados na carta dos direitos do homem ou ainda a procura da vantagem mútua entre organizações e empregados. 

Será isto utópico? A união europeia perseguiu historicamente este desígnio de convergência entre os seus países. É ela também utópica?

Parece-me evidente que o mercado deve ser mais regulado e ético, com um controlo sobre quem pode ou está em condições de aderir ao mercado global, tendo para tal, de cumprir com requisitos da ética global e de vantagem mútua entre as organizações e os cidadãos. Deste modo, poder-se-ão controlar melhor, variáveis desestabilizadoras do sistema e que se tornam verdadeiramente sistémicas, num sentido mais pejorativo do termo. Estou convicto, que o caos, e a incerteza, diminuiriam em ordem de grandeza.

António Pedro Devesa

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