Os
países que conseguem, por um lado, combinar alta tecnologia com mão-de-obra
barata adquirem uma vantagem absoluta sobre
os outros países. Temos como exemplo, o que está a acontecer na China e na
Índia, que começam a ter vantagem absoluta em muitos produtos, relativamente à
Europa. Isto acontece tanto em produtos de alta tecnologia de investimento direto
estrangeiro, como em produtos manufaturados. Em ambos os tipos de produtos,
estes países têm mão-de-obra adequada e a muito mais baixos níveis salariais
que os países ocidentais. Este fenómeno global de investimentos diretos
estrangeiros entre os diferentes países, é uma realidade inegável. O mundo comporta-se como um
só mercado interno como se de um único país apenas se tratasse. As
multinacionais estão em todo o lado, e estas têm investimentos em outras
empresas, ou simplesmente fundiram-se, ou ainda realizaram operações de
aquisição. A velocidade da informação está à distância de um ‘click’, e as reações
a estas são instantâneas, emocionais, pouco racionais, demasiado rápidas,
provocando oscilações nos mercados, nervosismos, aproveitamentos, especulações
derivadas de informação e contrainformação. É uma era de volatilidade dos
mercados e de incerteza.
A
mais pequena movimentação em algum lugar do globo provoca uma reação do outro
lado. Ora esta situação encaixa naquilo que se veio a denominar de teoria do
caos. Estamos perante um sistema cuja complexidade parece corresponder a desordem,
incerteza, instabilidade e aleatoriedade.
Ao modelar matematicamente um fenómeno extremamente
complexo, Edward Lorenz descobriu que pequenas perturbações nas condições
iniciais impediam qualquer previsibilidade, pois levavam a efeitos não só
quantitativamente distintos, mas também qualitativamente diferentes. Surgiu assim, conforme afirma Bauer, “uma "terceira via" entre o
determinismo dos sistemas lineares (…) e o indeterminismo do puro acaso: o
chamado caos.” Neste contexto de grande incerteza, e que
estamos a viver, o planeamento realizado pelas empresas, a longo prazo, não
parece revelar-se eficaz. Será
que o constante esforço de inovação, da proliferação da “destruição Criativa” de Schumpeter é suficiente para obter um
aumento dos resultados? Será que é sustentável um mundo em constante mudança na
criação de necessidades, com mudanças sistemáticas de estratégia e a
velocidades cada vez maiores? Esta parece ser uma defesa, uma adaptação ao
paradigma económico atual. Mas…até quando?
Será
que a globalização foi longe demais, ou pior, estamos a falar já de globalismo?
De uma ditadura do mercado? Acredito que sim. Penso que é necessário um novo paradigma
de modelo global de comércio menos assente na vantagem comparativa e mais baseada
na vantagem mútua. Deverão envolver-se
todos os países no processo, mesmo sendo de pequena dimensão. Parece utópico,
mas já estivemos mais longe. Não nos esqueçamos da borboleta e do bater das
suas asas! A Grécia é um país de relativa pequena dimensão e no entanto…
Como deverá ser então encetado o Desenvolvimento Mundial baseado
na vantagem mútua? Que regulações estarão acopladas a este conceito? O mercado livre e desregulado próprio do neoliberalismo parece ter
dado e continua a dar as suas lições negativas. Que exigências então? Que
normas? E a carta
dos Direitos do homem? Não deverão os países serem cumpridores dos direitos
humanos para poder aceder ao comércio livre?
Precisamos
de uma ética global nos negócios. Não será demais afirmar que, a crise que
atravessamos, e que teve origem no sub-prime, em muito se deve à falta desta
ética nos negócios, e até na avaliação individual e tentativas de superação dos
objectivos individuais na senda dos prémios de excelência e que sobrevalorizaram os "cabazes" de créditos transformados em apelativos credit default swaps.
Se
procuramos o wellfare, não podemos
viver num elevado grau de incerteza, no constante risco (ou pelo menos
desmesurado). Penso que devemos dar um fim ao neoliberalismo económico, que
evidenciou o falhanço da autorregulação dos mercados e a sua falta de ética.
Não podemos continuar com uma concorrência desigual. Devido à mobilidade do
capital, ao efeito de substituição das exportações, e à vantagem absoluta,
países com mão-de-obra barata e investimento estrangeiro em cada vez mais
produtos, contribuem para o seu desenvolvimento, mas em sentido contrário
contribuem para custos económicos e sociais elevados nos outros países. É como
uma corrida. Os pontos de partida devem ser iguais, ou melhor, o cumprimento de
normas éticas universalmente aceites, devem funcionar como premissa fundamental
para que esses países possam funcionar como “players no comércio internacional.
Como exemplos dou: o cumprimento dos direitos consignados na carta dos direitos
do homem ou ainda a procura da vantagem mútua entre organizações e empregados.
Será
isto utópico? A união europeia perseguiu historicamente este desígnio de convergência entre os
seus países. É ela também utópica?
Parece-me
evidente que o mercado deve ser mais regulado e ético, com um controlo sobre
quem pode ou está em condições de aderir ao mercado global, tendo para tal, de
cumprir com requisitos da ética global e de vantagem mútua entre as
organizações e os cidadãos. Deste modo, poder-se-ão controlar melhor, variáveis
desestabilizadoras do sistema e que se tornam verdadeiramente sistémicas, num
sentido mais pejorativo do termo. Estou convicto, que o caos, e a incerteza,
diminuiriam em ordem de grandeza.
António Pedro Devesa
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