Pedro Coimbra |
Nem questiono a
legalidade desta lei - que é considerada inconstitucional por alguns - mas
questiono o seu bom senso. Estou mesmo a ver: trabalhadores de impostos à porta
de um café, com uma ordem de serviço na mão, a multarem quem não apresentar a
factura de um café, de um chá ou de um bolo de arroz. Lá dentro, uma fila de
clientes na caixa de pagamento a darem nome, morada e número de contribuinte ao
atarefado empregado de balcão que passa facturas em série daqueles produtos.
Todos nós
estamos de acordo que o combate à fraude e à evasão fiscal é uma prioridade do
País, pois estima-se que a economia paralela seja superior a 20%. Se todos, sem
excepção, pagarem aquilo que lhes é devido, a carga fiscal pode descer,
tornando-se mais justa, sobretudo e em primeiro lugar para aqueles que cumprem
os seus compromissos, seja por princípio moral ou por impossibilidade de
proceder de outra forma.
Sou daqueles que
considero que a medida do Governo de deduzir em sede de IRS despesas em
restaurantes, oficinas e cabeleireiros é positiva. Mesmo sendo essa dedução
diminuta, é um incentivo a que cada um peça factura destas despesas para que as
possa abater nos seus impostos, contribuindo, dessa forma, para uma economia
mais transparente.
No entanto,
querer multar um cidadão por não apresentar a factura de um café é, além de
criar um desconforto grande na sociedade dando a impressão de um Estado Polícia
atrás de cada um de nós, é querer também inverter o ónus da prova. Quem deve
ser fiscalizado se existe factura do produto e bem transaccionado é quem o
vende, não é quem o compra. Quem o vende é que, de facto, tem a obrigação legal
e moral de emitir documento fiscal que prove a transacção e que sustenta a
obrigação fiscal perante o Estado. Ou seja, o Estado, através da Autoridade
Tributária, deve fiscalizar o comerciante e garantir que este cumpre legalmente
as suas obrigações fiscais.
Querer fazer de
cada cidadão um polícia de comerciantes e querer fazer da Autoridade Tributária
polícia do consumidor final é ridículo. E o ridículo mata! Neste caso, mata a
credibilidade do Estado e de quem nos governa com estas ideias.
Pedro Coimbra
Presidente da Federação de Coimbra do Partido Socialista
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